Aos 41 anos, Maria José Cavalcante faz parte do assentamento de agricultores Flor do Bosque, na cidade de Messias, Zona da Mata de Alagoas. Para quem conquistou um pedaço de terra para cultivar graças ao movimento da reforma agrária, Maria vê uma nova mudança em sua vida graças a um projeto do Rotary.

O projeto “Plantando Agroflorestas”, do Rotary club Maceió-Farol, une o plantio de alimentos com árvores nativas da região, permitindo maior produtividade, com sustentabilidade do solo, e mais ganhos para os agricultores, que vivem da renda dos excedentes das colheitas, vendidos em feiras locais.

“Acredito que a produção tem de ser feita respeitando a natureza. O projeto nos dá orientação para termos mais alimento no mesmo espaço [usado antes], e de termos uma renda a mais, pois quando temos excedente de alimentos, nós vendemos, ele vai para fora [do assentamento]”, destaca Maria.

O projeto de agroflorestas chegou à vida de Maria por meio de membros do Rotary que também são professores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). José Roberto Santos, engenheiro agrônomo e especialista em agroflorestas, viu que a forma de plantio dos agricultores da Zona da Mata alagoana poderia ser melhorada, beneficiando as pessoas e o meio ambiente.

Aliando o plantio de árvores nativas da Mata Atlântica, com raízes profundas que ajudam a manter a terra úmida, à plantação de alimentos, o projeto aumenta a produtividade da colheita e recupera o solo degradado. “O resultado é imediato e contínuo. Do segundo mês em diante, após a implantação da agrofloresta, eles já iniciam a colheita e replantio das hortaliças. Depois, eles irão colher lavouras como feijão, milho, abóbora, macaxeira, etc.”, explica José Roberto.

Os membros do Rotary estão envolvidos no desenvolvimento do projeto, compra de equipamentos e treinamento técnico dos agricultores. “A primeira etapa é a construção de viveiros para a geração das mudas. Estamos investindo nos viveiros e, depois, investiremos nos equipamentos para as plantações”, conta Flavio Lima, engenheiro civil e professor da UFAL. “O objetivo do projeto é agregar valor à produção. Nessa região, a grande maioria usa queimada e agrotóxico [nas plantações]”, diz. Os investimentos no projeto foram de US$ 33.500, tendo recebido aportes do clube Maceió-Farol, do clube argentino Caleta Olívia, que entrou como parceiro internacional, e da Fundação Rotária.

O projeto começou em janeiro e terá duração de um ano. Além do assentamento Flor do Bosque, em Messias, outros três também estão sendo beneficiados: Dom Helder (Murici), Zumbi dos Palmares (Branquinha) e Duas Barras (São Luís do Quitunde). Todos os assentamentos ficam na Zona da Mata alagoana, a cerca de 60 quilômetros da capital, Maceió. Nesta primeira etapa do projeto, cada acampamento constrói um viveiro para suas mudas de árvores.

No total, serão plantadas 600 árvores nativas por hectare e cada acampamento terá 15 hectares de agrofloresta. “O sistema é pensado para a utilização de recursos locais e do próprio assentamento, sem a necessidade do uso de agrotóxicos. Espera-se, com esse projeto, aumentar a renda e a qualidade de vida de 60 famílias de agricultores pela produção de alimentos e outros produtos florestais de forma contínua e de qualidade superior”, aponta José Roberto.

Para Maria e os outros agricultores beneficiados, além do treinamento técnico e da perspectiva de ganhos maiores, fica um importante aprendizado. “Aprendemos a conviver com a natureza. Aprendemos a respeitar e observar a natureza, a usar uma área que antes não era usada e a proteger as nascentes de água”, conclui.