Perder partes do rosto, como o nariz, a orelha ou um olho, por exemplo, são sequelas pelas quais passam muitos pacientes de câncer. Essa perda pode impossibilitar atividades básicas como comer ou até mesmo impedir o convívio social dessa pessoa. Por isso, a reconstrução facial é tão importante e precisa ser feita com rapidez. Em Jaú, interior de São Paulo, foi um projeto do Rotary que tornou possível essa realidade.
O Hospital Amaral Carvalho (HAC) é referência no tratamento oncológico na região e há anos oferece próteses faciais a pessoas que perderam partes de seus rostos. Mas o processo de reconstrução de face era longo e, muitas vezes, custava caro a pacientes que iam de outras cidades até Jaú apenas paras as consultas no hospital, precisando gastar com passagem e hospedagem.
“Eu tenho no hospital a disponibilidade de um dia por semana para trabalhar com molde, fazer a escultura, a prova da escultura. Era algo muito demorado. A maioria das pessoas é de fora de Jaú e precisava ir ao hospital de cinco a oito vezes para fazer a prótese”, conta Cassiano Alves Ferreira Neto, rotariano e protesista bucomaxilofacial do HAC.
Cassiano trabalha com próteses há mais de dez anos. Ele conta que a maior parte dos pacientes que perdem partes do rosto sofrem de câncer de pele. “São pessoas que ficam mais expostas ao sol e pessoas de mais idade, também aquelas que são fumantes ou que fazem uso de álcool”, explica sobre o perfil dos pacientes que costuma tratar.
Em conversa com um representante de uma empresa de tecnologia, Cassiano soube da possibilidade de confeccionar as próteses em impressora 3D. Então, levou a questão ao Rotary Club de Jahú Leste, que abraçou a causa e criou o “Projeto Faces”.
“Quando fizemos o projeto, a ideia era reduzir o número de visitas e o custo do paciente. De oito visitas, ele passaria a fazer quatro. Hoje, em alguns casos, acontece de o paciente vir apenas de duas a três vezes, tamanha a precisão do equipamento e a pouca necessidade de ajustes”, aponta Paulo Oliveira, rotariano que liderou o desenvolvimento do projeto dentro do clube.
Com investimento de US$ 32.876, foram adquiridos um scanner facial, duas impressoras 3D, um computador, insumos para o desenvolvimento das próteses, aerógrafo para pintura das próteses e a realização do treinamento para operação do equipamento. Uma terceira impressora 3D deve ser adquirida em breve.
O equipamento chegou ao hospital em março de 2020, mas devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, começou a ser operado apenas em setembro. “Antes, a prótese era de silicone, agora, é de resina maleável, biocompatível para ser usada no rosto da pessoa”, explica Cassiano.
Ele conta que, em geral, as próteses são fixadas no rosto do paciente com o uso de óculos. Mesmo que o paciente não use óculos, o acessório, que não precisa ter grau, é necessário para a correta fixação da prótese. Ainda estão sendo feitos estudos para avaliar a possibilidade de fazer a fixação das próteses com adesivos.
A fixação por implante já é mais complicada, pois pacientes que se submetem à quimioterapia não podem fazer implantes por um ano e os que passam por radioterapia não podem fazer implantes por cinco anos.
Uma prótese facial pode durar de cinco a seis anos, de acordo com os cuidados tomados pelo paciente. Todas as próteses feitas no HAC são cedidas gratuitamente aos pacientes do hospital, já que o atendimento é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na rede privada, uma prótese facial pode custar a partir de R$ 5 mil.
Paulo vê uma atuação diferenciada do Rotary nesse projeto, no qual o clube não supriu apenas uma necessidade da comunidade, mas contribuiu para um importante avanço no preparo do hospital de Jaú para tratar pacientes com câncer.
“Estamos dando um equipamento que não existia e uma mão de obra que não existia. Estamos gerando uma evolução na instituição parceira e não só cobrindo uma carência”, destaca. Ele lembra ainda que o equipamento é usado para atender pacientes de diversas cidades do estado de São Paulo.
“Com as próteses que o Rotary proporciona diminui muito a vinda dos pacientes para fazer a prótese”, reforça Cassiano. “Eles vêm de três a quatro vezes, antes, vinham de cinco a oito vezes. Tem nariz que eu faço em duas visitas. Então, você imagina a facilidade e a qualidade da adaptação. Fica perfeito, é impressionante”, avalia o protesista.
Neste projeto, o Rotary Club de Jahú-Leste teve como parceiro internacional o Rotary Club de Havelock North, da Nova Zelândia. A Fundação Rotária e os Rotary Clubs de Pederneiras e Dracena também contribuíram para o aporte de fundos.