A falta de acesso à água potável e saneamento básico afeta milhares de famílias em todo o Brasil. Em Sorocaba, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, e cidades vizinhas, a mobilização conjunta de Rotary Clubs mudou esse cenário para cerca de oito mil pessoas em comunidades carentes.
Foi em 2013, durante a realização de um seminário que abordou, entre outros temas, o acesso à água potável e ao tratamento de esgoto, que associados do Rotary viram que esse era um problema comum naquela região.
Acionado pelo governo municipal, o Rotary Club de Sorocaba-Vergueiro doou 57 biodigestores a uma comunidade que costumava regar suas hortaliças com água sem tratamento. Com o sucesso da iniciativa, veio a oportunidade para ampliar a ação, e ela cresceu, e muito.
Em 25 cidades da região, 47 Rotary Clubs se uniram para realizar a doação de 1400 filtros individuais para serem instalados em casas de famílias carentes. Mas um estudo posterior mostrou que, além de filtros e biodigestores para o tratamento da água, era preciso também, educação ambiental para a população.
Daí nasceu o projeto “Água boa da fonte à torneira”, liderado pelo Rotary Club de Sorocaba-Vergueiro, que envolveu os quase 50 clubes do distrito 4621* (antigo 4620) , em municípios como Sorocaba, Angatuba, Araçoiaba da Serra, Avaré, Capão Bonito, Cerqueira César, Piedade, Salto de Pirapora, São Miguel Arcanjo, Taquarituba e Tatuí, entre outros.
Luiz Paes de Camargo, associado do clube de Sorocaba-Vergueiro, esteve à frente do projeto e conta qual era a situação que os clubes encontraram ao avaliar as comunidades que seriam beneficiadas.
“Tivemos contato com pessoas que usavam filtros há cinco anos e nunca fizeram uma limpeza da vela do filtro. Outros não tinham filtro e extraiam água de poço ao lado de fossas negras (com esgoto) e bebiam água de lá”, explica. “Alguns despejavam dejetos diretamente no córrego. As crianças brincavam com a água suja, tendo problemas como verminoses”, diz.
Com o investimento de US$ 78.780, incluindo aportes da Fundação Rotária, de diferentes clubes do distrito 4621 e do distrito 4905, da Argentina, foi possível comprar 1400 filtros individuais para tornar a água potável e 112 biodigestores, para tratamento de águas residuais. Somando os beneficiários dos filtros, dos biodigestores e das aulas de educação ambiental, o projeto atingiu cerca de oito mil moradores do interior de São Paulo. O município de Angatuba também foi beneficiado com a doação e instalação de cinco caixas d’água comunitárias.
Entre os biodigestores, seis tinham capacidade de tratamento de três mil litros d’água e foram instalados em entidades comunitárias, como casas de tratamento de dependentes químicos ou pessoas com deficiência, que atendiam até 60 pessoas. Os demais, com capacidade para tratar 600 litros d’água cada, foram instalados em casas de famílias. O projeto foi implementado entre os anos de 2018 e 2020.
O projeto envolveu ainda uma equipe de formação profissional, composta por rotarianos e colaboradores de fora da organização. Entre os membros da equipe estavam profissionais de áreas como veterinária, gestão ambiental, engenharia ambiental e engenharia sanitária.
A equipe de formação profissional foi liderada pelo Rotary Club de Sorocaba Manchester e elaborou todo o conteúdo de uma cartilha de 70 páginas. A cartilha foi dividida em seis matérias para instruir a população sobre diferentes aspectos da coleta e utilização da água: nascentes e suas matas ciliares; saneamento básico; a importância da água para a saúde; educação ambiental; reuso da água; e o programa de treinamento de multiplicadores.
As cartilhas foram distribuídas às famílias beneficiárias do programa e também usadas para algumas aulas especiais que reuniam de 10 a 30 pessoas cada.
“O projeto foi multifacetado. Ele conseguiu identificar as reais carências de cada comunidade. A necessidade de saneamento é comum (a todas elas). Não há planejamento nas periferias, as pessoas poluem as nascentes”, destaca Camargo.
Ele ressalta ainda a importância do estabelecimento de Núcleos Rotary de Desenvolvimento Comunitário nas localidades que recebem os projetos.
Em Sorocaba, ele conta, foi a presença de um desses núcleos que ajudou a educar a população sobre o tema e a reduzir o mau uso da água entre os moradores. “O núcleo também lidera a busca de alternativas de suprimento, principalmente em localidades em que a água está cada vez menos disponível nas nascentes”, relata.
Além das cartilhas, o projeto também produziu vídeos curtos que ainda são usados atualmente em treinamentos dados nos municípios.
Camargo conta que, para este e o próximo ano, o clube pretende reforçar a conscientização de moradores das comunidades sobre a importância da proteção de nascentes e das matas ciliares, ampliando a parceria com todos os clubes do distrito 4621, empresas e o poder público.
*Para quem não conhece a estrutura do Rotary International, regionalmente, os Rotary clubs são agrupados em distritos.