A falta de acesso à água potável nas aldeias de Chimoio, em Moçambique, mexeu com Ana Lucia Amstalden, associada do Rotary Club de Saltinho, no interior de São Paulo. Vendo crianças e mulheres caminharem até 20 quilômetros para encontrar o que beber, ela sabia que precisava fazer algo.
O ano era 2018 e Ana estava no país africano para atuar como pedagoga em um trabalho voluntário realizado a convite de uma ONG. Ao voltar ao Brasil, ela sentiu que podia fazer mais por aquelas crianças e por suas comunidades, e decidiu colocar o seu Rotary Club em ação para conseguir a ajuda que era preciso.
“Fiquei pensando no que poderia ser feito para fazer a diferença na vida daquelas pessoas. Eu trouxe para o meu clube a ideia de começarmos pela água”, ela conta. “Montei um projeto e comecei a levar para os clubes com meus próprios recursos. Comecei a divulgar para os Rotary Clubs e para amigos”, explica.
Assim, ela se colocou à frente de um projeto que recebeu aporte da Fundação Rotária e de mais de 13 Rotary Clubs do Brasil e do exterior, o que permitiu um investimento de US$ 52 mil. Ana também foi responsável por fazer o mapeamento das aldeias na cidade de Chimoio. Durante 28 dias, ela mapeou 12 vilas com grandes dificuldades de acesso à água limpa.
“Em todas essas aldeias, havia muitas crianças desnutridas”, lembra a rotariana. Ela aponta ainda outros problemas causados pela falta de acesso à água. “Muitas vezes, as crianças não vão à escola para passar o dia procurando água. A educação fica muito prejudicada, porque a escola não dá alimentação e água. Então, você não consegue atrair as crianças, a maioria fica sem estudar”, relata.
Como não era viável construir poços em todas as aldeias que necessitavam, Ana selecionou aquelas com maior número de mulheres e crianças, além de considerar as maiores distâncias em relação aos rios da região e outras fontes de água. No total, cerca de 37 mil pessoas foram beneficiadas com a construção de oito poços em Chimoio, entregues em janeiro deste ano.
Após a entrega dos poços, houve o cadastramento das famílias que iriam utilizar as águas dos mesmos. Os membros das comunidades também passaram por treinamento para cuidar e manter os poços e receberam orientação para evitar que a água fosse contaminada com fezes.
Ana conta que teve a chance de ver as primeiras mudanças nas aldeias após a entregas de alguns poços. “As crianças já conseguiam brincar mais tempo, estavam mais limpas e também com as roupas mais limpas. As comunidades estavam fazendo hortas e regando com a água dos poços, e já se conseguia fazer comida com água limpa”. “Agora, as crianças têm mais tempo para estudar e brincar”, conclui.